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Igrejas de língua portuguesa alertam para desafios da violência e das migrações

As Igrejas católicas de língua portuguesa apelaram, esta terça-feira, a uma acção concertada contra os “populismos manipuladores” e a cultura da violência, num contexto internacional que descrevem como uma “noite densa de escuridão”, marcada por guerras, deslocações forçadas e violações da dignidade humana.

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A posição foi expressa na abertura do 16.º Encontro de Bispos Lusófonos, que decorre em Lisboa, reunindo representantes das Conferências Episcopais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe e Portugal.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, defendeu que cabe à hierarquia católica contribuir para uma cultura de responsabilidade, que impeça governos de ceder “a populismos manipuladores” e garanta um acolhimento digno e justo a quem procura refúgio. Sublinhou ainda que a missão da Igreja é promover unidade na diversidade, contrariando “projectos humanos que impõem uma língua única, sem respeito pela pluralidade das culturas”.

Na mesma linha, José Manuel Imbamba, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, alertou para “o amontoar de tensões entre Estados e a multiplicação de guerras” em todos os continentes, algumas esquecidas ou silenciadas, que têm provocado mortes indiscriminadas, deslocações forçadas e insegurança generalizada. Para o bispo angolano, o actual contexto agrava a pobreza, a injustiça social e a erosão do direito internacional, promovendo “um ambiente em que a mentira vale mais do que a verdade e o mal mais do que o bem”.

Os responsáveis sublinharam a intenção da Igreja lusófona em assumir-se como “ponte de união”, apostando na hospitalidade, no diálogo e na inclusão como instrumentos para promover justiça e paz.

José Ornelas reconheceu, no entanto, as sombras do passado da Igreja Católica, nomeadamente a conivência com abusos de poder e a escravatura durante o período colonial. Defendeu, por isso, uma “verdade purificadora da memória” que permita sarar feridas históricas e construir um futuro assente na fraternidade.

Entre os temas em destaque no encontro está também a questão das migrações e da mobilidade humana, que os bispos consideram alvo de “manipulação e oportunismo”, com consequências dramáticas para os mais vulneráveis. “A Igreja, por natureza peregrina, tem de acompanhar os que partem e acolher os que chegam, para que não caiam nas mãos de traficantes e oportunistas”, afirmou o presidente da CEP.

O encontro, que decorre até ao final da semana, pretende ir além da reflexão e traduzir-se em “perspectivas reais de colaboração efectiva” entre as hierarquias católicas dos países lusófonos.