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Manifestantes em Luanda acusam polícia de bloqueios

Centenas de cidadãos manifestaram-se no passado sábado, em Luanda, contra o aumento das propinas escolares, dos preços dos combustíveis e da degradação das condições de vida, numa marcha que acabou por ser travada pelas forças policiais antes de atingir o destino previsto.

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Há 20 horas
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Organizada pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), a acção de protesto partiu do largo do Mercado de São Paulo e tinha como objectivo terminar junto ao Ministério das Finanças. No entanto, barreiras colocadas pela Polícia Nacional impediram o avanço dos manifestantes, forçando a concentração no Largo do Zé Pirão, nas imediações da Alameda Manuel Van-Dúnem.

O dispositivo policial foi visível ao longo de toda a marcha, com o bloqueio de várias artérias centrais de Luanda, interrompendo a circulação automóvel durante horas. A presença de efectivos armados, viaturas de controlo e agentes à paisana marcou a jornada, que contou com a adesão de activistas, estudantes, encarregados de educação, vendedores ambulantes (‘zungueiras’), taxistas e membros da oposição.

Francisco Teixeira, presidente do MEA, afirmou que a escolha do Ministério das Finanças como destino da marcha visava responsabilizar a instituição pelos decretos que aprovaram a subida dos preços da gasolina e das propinas. “Fomos travados por forças armadas. Optámos por não forçar a passagem, mas a nossa posição é clara: queremos que estas medidas sejam revistas”, declarou.

Cartazes com frases como “Já nos roubaram muito, deixem-nos pelo menos a educação” e “Abaixo as propinas, abaixo o combustível” expressavam o descontentamento dos manifestantes. Alguns grupos improvisaram manifestações paralelas, nomeadamente de ‘zungueiras’, que entoavam cânticos contra a subida do custo de vida.

Eduardo Jesus, encarregado de educação, descreveu o Governo como “insensível” às dificuldades dos pais. Também a activista Yared Bumba criticou a falta de condições nas escolas e o agravamento da situação económica das famílias. Já Lucas Mendes, estudante universitário, sublinhou o impacto da subida de preços na vida estudantil.

Entre os participantes, destacou-se ainda a presença de Miguel Kimbenze, presidente honorário do MEA, que classificou o actual executivo como “carrasco do povo” e defendeu a continuação da luta cívica por mudanças estruturais.

Durante os protestos, foi também denunciada a detenção do activista Osvaldo Caholo, um dos organizadores da marcha, que segundo o Serviço de Investigação Criminal está indiciado por incitação à violência e rebelião.

A Amnistia Internacional e outras organizações de defesa dos direitos humanos têm vindo a apelar ao respeito pela liberdade de reunião em Angola, perante registos recentes de repressão a manifestações pacíficas.