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Os desafios da província mais jovem de Angola: Cuando completa nove meses, mas população mantém dúvidas sobre promessas políticas

Com nove meses de existência, a província do Cuando procura afirmar-se no mapa administrativo do país, mas enfrenta obstáculos estruturais que condicionam o seu desenvolvimento. A inexistência de estradas asfaltadas entre a capital, Mavinga, e Cuito Cuanavale, o centro urbano mais próximo, a cerca de 200 quilómetros, continua a ser o principal entrave, tornando a viagem por terra uma prova de resistência.

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O percurso, feito em camiões Kamaz, pode demorar entre dez horas e dois dias, dependendo das condições mecânicas dos veículos. A dureza da picada, marcada por trilhos arenosos e ladeada por árvores cerradas, contrasta com a beleza natural da savana e das planícies alagadas, conhecidas localmente como chanas.

Foi neste cenário que o Presidente João Lourenço, em visita a Mavinga em Julho, anunciou o relançamento das obras da estrada Cuito Cuanavale-Mavinga, num novo traçado já desminado. O objectivo é completar a ligação rodoviária, herança inacabada do período pós-guerra, e criar condições para dinamizar a economia local.

Entretanto, Mavinga mantém-se como um povoado modesto, ainda a dar os primeiros passos para assumir as funções de capital provincial. Serviços administrativos começam a instalar-se, mas a dimensão e o calendário do projecto continuam por definir.

A divisão da antiga província do Cuando Cubango suscitou expectativas e reservas. Para alguns habitantes, representa uma oportunidade de desenvolvimento; para outros, receios quanto à concretização das promessas. Sérgio Afonso, professor chegado do Huambo, reconhece “mais movimento” e melhorias na energia, mas insiste que “a estrada é o maior problema”. José Teodoro, técnico de saúde, partilha da mesma opinião, embora note “uma nova dinâmica” em curso. Já o jovem Abel, agricultor local, mostra cepticismo: “Houve melhorias desde a paz, mas espero que não sejam promessas falsas”.

As preocupações da população foram também transmitidas ao Chefe de Estado pelo governador do Cuando, Lúcio Amaral, que elencou carências em estradas, escolas, hospitais, habitação, energia e água, mas também problemas ligados à exploração desordenada de recursos florestais e à convivência difícil com a vida selvagem, incluindo ataques de hipopótamos e jacarés.

Com uma área de 93.219 quilómetros quadrados, superior à de Portugal continental e uma população estimada em 140 mil habitantes, o Cuando ambiciona crescer para 350 mil até 2050. A província possui recursos naturais abundantes e forte potencial para a agricultura sustentável e o ecoturismo, mas a falta de acessos continua a adiar a concretização dessas promessas.