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Hoje: greve dos taxistas paralisa Luanda e desencadeia actos de vandalismo em vários bairros

O primeiro dia da greve dos taxistas em Luanda, esta segunda-feira, ficou marcado por graves perturbações à mobilidade urbana e por múltiplos actos de vandalismo, com barricadas, pneus incendiados, viaturas danificadas e pilhagens em vários pontos da cidade. A paralisação, convocada por associações de taxistas, visa contestar o aumento do preço dos combustíveis e das tarifas de transporte.

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Há 1 semana
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Desde as primeiras horas da manhã, a ausência dos habituais “azuis e brancos” como são popularmente conhecidos os táxis colectivos provocou longas filas nas paragens e forçou muitos cidadãos a percorrer grandes distâncias a pé para chegar aos seus destinos. A procura por autocarros públicos duplicou, mas a oferta revelou-se insuficiente para dar resposta à elevada procura.

Na Avenida Fidel de Castro, nas estradas de Viana, Camama, Calemba 2 e Cacuaco, o cenário era semelhante: centenas de pessoas aguardavam transporte, enquanto outras seguiam a pé, visivelmente afectadas pelo caos instalado. Paixão Mateus, carpinteiro de 37 anos, esperava há mais de três horas por transporte. “Não há táxis nem autocarros. Estou em risco de faltar ao trabalho”, disse.

Os protestos degeneraram em violência nalgumas zonas da capital. No Calemba 2, barricadas improvisadas com contentores, árvores e pneus a arder bloquearam a circulação na Rua 11 de Novembro. Grupos de moto taxistas e populares impediram a passagem de veículos e, em alguns casos, registaram-se agressões a condutores. Viaturas foram vandalizadas e estabelecimentos comerciais, incluindo armazéns e supermercados, foram saqueados.

As forças da ordem tentaram intervir para repor a tranquilidade, mas o número reduzido de efectivos revelou-se insuficiente para controlar a situação. Houve relatos de disparos de advertência para dispersar os agressores, sem grande eficácia.

Moradores e transeuntes manifestaram indignação perante o vandalismo. Antónia Jorge, testemunha da pilhagem de um supermercado, considerou inaceitável o ataque aos estabelecimentos. “Isto não é protesto, é roubo. Os funcionários foram agredidos. A greve é dos taxistas, os lojistas nada têm a ver com isso”, afirmou.

Sem alternativas de transporte, Nsimba Martins decidiu voltar a pé para casa depois de ver todas as vias bloqueadas. “Esta via está completamente fechada. Puseram barricadas e queimaram pneus. Não há táxis, não há como chegar ao serviço”, lamentou.

Para Valéria Daniel, desempregada de 22 anos, os protestos reflectem o desespero crescente da população. “A gasolina está cara, o custo de vida subiu. As pessoas estão revoltadas. Há quem nem consiga alimentar a família”, declarou.

Também foram reportados incidentes junto a postos de abastecimento e tentativas de manifestação espontânea nas imediações da sede do Governo Provincial de Luanda, travadas pela polícia.

Joaquim Catimba, taxista no município de Viana, defendeu a greve e apelou à compreensão do Governo. “Queremos respeito pela classe e revisão do preço do combustível. A tarifa do táxi é incomportável para os passageiros, e nós não temos condições de continuar assim”, disse.

A paralisação deverá prolongar-se até quarta-feira. As autoridades ainda não se pronunciaram oficialmente sobre os episódios de violência nem sobre eventuais negociações com os representantes dos taxistas.