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João Lourenço: África quer mais autonomia e menos dependência das cadeias externas de produção de vacinas

O presidente em exercício da União Africana (UA), João Lourenço, disse esta Quarta-feira que a pandemia da covid-19 expôs a “dolorosa dependência” de África em relação às cadeias externas de produção de vacinas e por isso quer mais equidade, voz e autonomia.

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“Não podemos deixar perpetuar esta situação”, afirmou João Lourenço, quando discursava esta Quarta-feira, na capital belga, na Cimeira da Aliança obal de Vacinas (GAVI), para o reaprovisionamento do período 2026-2030.

O também chefe de Estado angolano destacou que as vacinas continuam a ser uma das ferramentas “mais simples e eficazes para proteger e prolongar a vida”, lembrando que a Gavi pretende mobilizar nove mil milhões de dólares para apoiar a vacinação de 500 milhões de crianças, salvando entre oito e nove milhões de vidas, nos próximos quatro anos.

“África está unida e comprometida com essa causa. Pedimos à comunidade internacional que também se comprometa, porque vacinar uma criança não é apenas proteger uma vida, é proteger o futuro através de uma segurança sanitária global”, disse.

Como presidente da União Africana, João Lourenço transmitiu a mensagem de que “África não é apenas beneficiária, África está pronta para ser co-autora da nova era da imunização global”.

“É por isso que apoiamos a iniciativa da Gavi para o fortalecimento da produção regional africana de vacinas, no quadro da iniciativa AVMA [African Vaccine Manufacturing Accelerator]”, destacou.

O continente acredita que a GAVI pode também desempenhar um papel estratégico no apoio à introdução de novas vacinas, especialmente contra doenças que continuam a afectar desproporcionalmente os países africanos e populações mais vulneráveis a nível global, como a tuberculose, a malária e a dengue, apontou João Lourenço.

O Presidente disse que a inovação “deve caminhar lado a lado com a equidade” e África está pronta para ser parceira activa na investigação e na implementação dessas soluções de próxima geração.

“Queremos transferência de tecnologia, parcerias bilaterais estratégicas, capacitação científica da nossa juventude, queremos vacinas acessíveis, feitas por africanos, para africanos e para o mundo”, expressou.

O líder da União Africana sublinhou que, nos últimos 25 anos, a GAVI tem sido um parceiro estratégico de confiança, um instrumento multilateral eficaz e um símbolo de solidariedade internacional bem-sucedida.

“Com uma abordagem baseada na evidência, resultados e equidade, a GAVI permitiu que mais de 25 países africanos de baixa renda ampliassem o acesso a vacinas, particularmente de novas vacinas, que de outra forma estariam fora do alcance de milhões de crianças”, enfatizou.

O chefe de Estado reconheceu “com apreço” o esforço contínuo da GAVI para adaptar os seus modelos de apoio financeiro, incluindo o trabalho em curso para tornar os países de rendimento médio elegíveis a formas inovadoras e sustentáveis de financiamento.

João Lourenço sublinhou que, nos últimos quatro anos, a GAVI canalizou mais de cinco mil milhões de dólares para o continente africano, o equivalente a mais de mil milhões de dólares por ano.

“Só em 2023, mais de 700 milhões de dólares foram investidos em África”, acrescentou, considerando que “o impacto é evidente e transformador”.

Angola, segundo João Lourenço, foi um dos países beneficiários directos “de apoios cruciais, com destaque para a introdução de sete novas vacinas, incluindo aquelas que protegem contra duas das três principais causas de morte em crianças menores de cinco anos, a pneumonia e as diarreias virais”.

Angola vai brevemente introduzir a vacina contra o Papiloma Vírus Humano, para garantir uma vida saudável aos jovens, bem como a vacina contra a malária, a primeira causa de morte no país, destacando ainda os avanços significativos na resposta a surtos epidémicos da poliomielite, covid-19, sarampo e cólera.

Como outros países africanos, Angola tem vindo a formar, com o apoio da GAVI, epidemiologistas, técnicos de logística, gestores de dados e outras especialidades essenciais para assegurar o planeamento e a execução eficaz do Programa de Imunização, iniciando já “um ambicioso programa de especialização de 38 mil profissionais de várias áreas críticas”.

C/VA. Lusa