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Negócio milionário na margem da crise: camiões-cisterna se envaidecem e preços duplicam

A escassez de água em Luanda e nas províncias vizinhas de Bengo e Icolo e Bengo transformou os camiões-cisterna num negócio altamente lucrativo, com preços que ultrapassam os 60.000 kwanzas por 20.000 litros, mais do dobro do custo habitual.

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Há 3 meses
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Há semanas, bairros inteiros enfrentam torneiras secas, forçando a população a depender de abastecimentos alternativos para suprir as suas necessidades. Esta crise coincide com um surto de cólera que já contabiliza mais de 400 casos desde o início de Janeiro, agravando ainda mais as condições de saúde pública.

Empresas privadas, conhecidas como “girafas”, têm registado uma procura sem precedentes. Os camiões-cisterna abastecem-se em pontos como o Kifangondo, no rio Bengo, que serve de fonte para o fornecimento de água às três províncias. Apesar dos esforços de tratamento, a qualidade da água levantou preocupações, com relatos de contaminação devido às comportas abertas de barragens e falta de produtos químicos de purificação.

Segundo Eduardo Nicolau Diassonama, técnico de uma das “girafas” no Kifangondo, cada camião-cisterna paga 7.000 kwanzas por 20.000 litros. No entanto, os custos para o consumidor final mais do que triplicam, especialmente em áreas de difícil acesso, devido às péssimas condições das estradas.

“A água é boa e passa por avaliações laboratoriais regulares”, garante Diassonama, mas a falta de alternativas públicas está a sobrecarregar a população, particularmente nas zonas periféricas.

Preços Extorsivos e Desespero Popular

Residentes como Luzia Mateus, do Kapari, descrevem a situação como insustentável. “A água desapareceu desde o início de Janeiro. Uma cisterna que antes custava 20.000 kwanzas agora chega aos 60.000. Estamos a viver de milagres para evitar a cólera”, lamenta.

No Panguila, outra área fortemente afectada, revendedores relatam aumentos semelhantes. Euginha Modesto, mãe de duas crianças, conta como os preços elevados a forçam a escolhas difíceis entre água e educação para as filhas.

Cólera e a Falta de Resposta Estatal

A crise sanitária e a falta de água potável expõem falhas no sistema de abastecimento público, agravadas pela incapacidade de reparação das infraestruturas existentes. Pedro Pilares da Silva, gestor de uma das “girafas”, aponta a falta de stock de produtos de purificação na EPAL como outro factor crítico.

Os residentes apelam por uma solução urgente para o fornecimento de água e medidas eficazes contra a cólera. “O governo tem de priorizar a qualidade da água e garantir um acesso justo, porque a cólera já deveria ser uma doença do passado”, defende Aldair Leão, camionista e residente do Kapari.

Enquanto a população aguarda soluções estruturais, o negócio dos camiões-cisterna prospera em meio ao desespero, evidenciando como a crise tornou a água, um direito básico, num luxo inacessível para muitos.

PONTUAL, fonte credível de informação.